quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Allen Halloween - Histórias da Bola


Uma vez fui ver a bola. Era o jogo do título. Passado 18 ou 19 anos, não sei bem, o Sporting podia finalmente voltar a ser campeão nacional. O Sporting jogava fora contra… também não me lembro e não me apetece ir agora ao Google ou ligar a algum maluco, daqueles que decoram tudo sobre o futebol mas nem sabem quando é que os filhos fazem anos. Mas tá-se bem, também não interessa. O Sporting jogava fora e montou em Alvalade, no antigo campo de treinos, uma festa para os adeptos, com ecrãs gigantes, música brasileira ao vivo e todas essas coisas indispensáveis para o momento que se adivinhava. 
O campo estava cheio, as pessoas apinhavam-se, não havia espaço nem para esticar os braços na horizontal. Estava um dia lindo. Nós estávamos em primeiro lugar no campeonato, penso que um empate dava-nos o título. O FCP era segundo e precisava ganhar o seu jogo e esperar um deslize do Sporting. Estava tudo correr bem. De repente, é anunciado que o FCP sofreu um golo, explodiu a festa. À minha frente havia um motoqueiro, daqueles estilo, DT, capacete na mão, cigarro na boca. O capacete dele “razou-me” a cara, toda a gente aos saltos. Uma massa de gente se empurrando que pareciam ondas num dia de mar bravo. Como dizia o outro, “O drama, o terror”.
Terminados os festejos, eu senti algo de estranho na minha boca. Era como se alguém me tivesse tocado nos lábios ou dado um beijo durante a confusão e eu não tivesse visto. Uma sensação de frescura, daquelas que se sentem quando mastigamos uma pastilha de mentol, um ventinho frio. Quando finalmente levo a mão a boca, notei então que me faltava metade dum dente. Afinal o capacete não me tinha razado a cara, o capacete tinha acabado de me roubar um bocado do meu lindo marfim. Ao aperceber-se da situação, o motoqueiro pediu-me mil desculpas. Os meus amigos entretanto ao verem-me sem dentes parecia que o Sporting tinha marcado um golo, riam-se que nem crianças.

No fim, o motoqueiro para me compensar do dano, ou para não sofrer dano, deu-me um presente. Nessa altura eu nem ligava muito a esse presente, então ofereci-o ao meu amigo Johnny G. (R.I.P.), um dos maiores sportinguistas que conheci até hoje. Para ele e para o Sporting foi um dia em grande, para mim… foi um dia chato.

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